A poesia fere com delicadeza, mas não na acepção violenta que esse verbo sugere. Ela fere abrindo veios nas gramáticas do sentir, rasgos cuja profundidade ou extensão não são mensuráveis a não ser, talvez, pela pujança com que umas poucas palavras de poeta nos arrebatam. O céu das pequenas criaturas, primeiro volume de poemas de André Tessaro Pelinser, é um livro repleto desses momentos de franca epifania: visões da amplitude e percebimentos de miudezas que, articulados com segurança pelo autor, traduzem a experiência que não se esgota na representação de um tempo acelerado e pandêmico porque atenta às feridas mais profundas do sentimento do mundo. A referência acima ao poema-livro de Drummond não é gratuita. Há muito do poeta de Itabira na linguagem sopesada de Pelinser, nos gestos comedidos das palavras mais melancólicas, na segurança que esconde e revela o ser político, na economia sintática que nunca é trivial, ainda que pareça comezinha. À medida que os poemas formam suas(...)