'O homem que sabia ouvir' tem como argumento os obstáculos enfrentados por pessoas menos competitivas em uma sociedade regida pelo pragmatismo, mediante o qual vicissitudes individuais têm pouca ou nenhuma importância. A estrutura narrativa parte de um conto, a cujo enredo se agrega uma série de histórias narradas em formato de fábulas. O personagem principal é um homem com deficiência cognitiva que resiste solitário em meio aos turistas e moradores do vilarejo beira-mar onde reside. Apesar das limitações, sobrevive com relativa competência graças à capacidade de ouvir as pessoas. Tem pouca compreenção das confissões e desabafos daqueles que o acolhemcomo interlocutor, porém só pelo fato de se prestar a ouvi-los é de alguma forma levado em consideração - o que para alguém estigmatizado como ele representa muito. Apesar de dedicado ouvinte das agruras alheias, é uma pessoa solitária, que tem como únicos ompanheiros dois animais domésticos. A narrativa do romance se baseia em duas referências de tempo. A do momento presente, vinculada ao enredo de um conto que narra situação taumática vivida pelo protagonista, da qual resultará o desfecho do livro, e a do universo das fábulas (histórias com conteúdo moral e alegórico) por ele rememoradas.