Quando Bernardo Élis estreou, em 1944, com o volume de contos intitulado Ermos e Gerais, foi acolhido por Monteiro Lobato com um estranho elogio. "O livro está prejudicado pelo excesso de talento do autor", escrevia o inventor do Jeca Tatu. E logo esclarecia que o escritor, dominado pelo impulso criador, se esparramava demais, sem conseguir "amansar o cavalo bravo de seu talento". O conselho surtiu efeito. Nas obras seguintes, Élis procurou não apenas aprimorar o estilo, despojá-lo de penduricalhos inúteis, mas também se conter como narrador, sugerir ao máximo, transmitir apenas o essencial. Ou seja, amansar o cavalo bravo. Natural de Corumbá de Goiás, Bernardo Élis passou quase toda a vida em seu estado natal, mas sobretudo impregnou-se da vida goiana, de seus hábitos e costumes, do linguajar, atento aos pequenos dramas e às grandes tragédias desenroladas em casas de pau a pique da roça, entre gente humilde, mas pungentes, dolorosas, à espera do gancho de um escritor autêntico. Identificado com a terra, Élis se revelou desde a estréia (e continuou nos livros seguintes), regionalista mas utilizando técnicas modernas de ficção, com uma linguagem coloquial saborosa, repleta de termos e construções verbais típicas goianas, entremeadas de imagens surrealistas, atiradas com perícia, sem interromper o fluxo do texto, ou desviar a atenção do leitor. Como flores na paisagem, que prendem o olhar do viajante, sem desviá-lo do caminho. Os contos, apontando a prepotência dos poderosos, o regime feudal, a ignorância, eram violentos, rudes, com alguns aspectos repulsivos, tal e qual os pobres habitantes dos ermos e gerais que retrata, asquerosos, loucos, sem defesa contra a opressão dos patrões e da polícia. Um mundo terrível, no qual seria difícil discernir qualquer esperança.