Não há ninguém mais exilado do que quem escreve cartas. A esse, é negado o território, o tempo, o diálogo. Para ele, só resta a letra, o refúgio da linguagem. Desde que li Vapor barato (Iluminuras, 2018), noto em Wilson Alves-Bezerra não a fragmentação (tecnicamente natural em se tratando de um romance epistolar como este), mas algo mais: a inconciliável busca de uma unidade, só alcançada no outro, na interlocução impossível no universo dos seus romances. Neste A máquina de moer os dias, o autor está decidido a narrar o exílio (e também o asilo) dos seus personagens, agarrados a fiapos de fala elemento caro aos psicanalistas. Contudo, a psicanálise é um tipo de literatura, de sinais trocados. Se Vapor barato está para a tal teoria da alma, este A máquina de moer os dias dá todos os sinais do caso psiquiátrico. Crônico. Nacional. Sua sintaxe da loucura. E, em vez da retórica, do discurso e da catarse mediada, Wilson prefere nos colocar no hiato dessas falas, seus personagens [...]