Lima Barreto gostava de publicar as suas crônicas em jornais e revistas de pequena circulação, obscuros, aos quais ninguém dá importância, como ele mesmo confessou. O que hoje chamaríamos de imprensa alternativa. A palavra, aliás encarada como uma espécie de estigma, de marginalidade, se ajusta bem à vida e à obra do próprio escritor, que detestava a grande imprensa, da mesma forma que abominava a alta sociedade e os poderosos do mundo. Revoltado, amargo, reclamando de tudo, dominado pelo sentimento de autodestruição, mantinha porém no fundo uma certa pureza de criança mimada, magoada e desiludida com a brutalidade da vida. As suas crônicas, a maioria delas escrita no período de 1918 a 1922, expõem com força esses sentimentos, não raras vezes expressos num tom panfletário, de crítica violenta às instituições políticas e sociais (nossa vilã e ávida sociedade burguesa, escreveu), sátira aos costumes e identificação com o povo. Com o tempo, aumentam a prevenção contra a [...]