O tema deste livro é o Iluminismo. Em vez de celebrar o percurso triunfante da luz da razão e da ciência sobre as trevas da fé e da religião, ou denunciar um putativo projeto iluminista em termos de suas limitações e falhas em relação a império, classe, gênero, raça e etnia, busca-se compreender um modo particular assumido por esse fenômeno histórico em um contexto específico: a Inglaterra, na sequência da sangrenta guerra civil religiosa que a dividiu no século XVII. Argumenta-se que o Iluminismo inglês é um fenômeno intelectual endógeno aos debates religiosos e políticos que tiveram lugar no período conhecido como a ¿Restauração¿. Conduzidos, em larga medida, ainda na linguagem da Reforma e opondo diferentes concepções acerca da religião protestante, esses debates concerniram ao problema da relaçãore crença e autoridade civil e eclesiástica. A partir do exame desses debates, busca-se articular o seguinte argumento geral: a operação cultural que deu origem ao Iluminismo inglês não significou simplesmente uma subordinação da religião ao poder civil (embora, em certa medida, isso também estivesse envolvido), mas, sobretudo, a invenção de uma religião civil, que combinava as tradições da caritas cristã e o princípio, particularmente importante na experiência protestante, da responsabilidade individual pela salvação, com as acepções jurídicas, cívicas e, sobretudo, sociais do conceito de civilidade.