Apesar do blábláblá vigente o bordel e a sexualidade ainda são elementos ansiógenos. Muitas vezes o cliente sente-se perdido no meio de tantos paradoxos. Se é difícil admitir o Canticum Sacrum de Stravinsky ali na zona é muito mais difícil ainda compreender como, uma mulher estranha, pública e bêbada pode ser muito mais desejável e carinhosa de que aquela "dona de casa" com quem se compartilha todos os dias, todas as horas e mesmo toda a vida. Seus olhos brilham de ingenuidade e de alegria. Claro que de vez em quando lembra da mãe com culpa e com horror, pois descobre que há algo dela na puta e algo da puta nela. Tanto nas horas de felicidade como nas de melancolia de um homem é comum que a imagem da mãe seja invocada e que ele regrida a uma espécie de fidelidade neurótica. A música, o conhaque, as promessas, a contravenção... Ali o tempo parece não ser corrosivo, não haver vestígios de Deus, nem de leis, nem de moralismos. Ali se tem a ilusão de que foram elas, as putas, as piranhas e as libertinas, livres da falsidade estabelecida, que edificaram tudo o que existe de melhor, transcendente e de mais respeitável neste planeta. E isto, sem nunca terem reclamado para si nenhum certificado, nenhum monumento, nenhum memorial e nenhuma efígie de bronze em praça pública!