Quando eu estava com mais ou menos de oito pra dez anos, em 1906, mamãe ia muito nas reuniões e missas na Igreja São José, e me levava. Eu também comecei a freqüentar aulas de catecismo, lá na Igreja São José. Então, no Natal, eles fizeram aquele presépio muito bonito e eu gostei muito de ver. Então falei pra mamãe: "Mamãe, a gente podia fazer um presepiozinho também em casa". Aí ela disse assim: "Ah, meu filho, de que jeito? Nós não podemos comprar as figuras e as imagens. Pode tirar isso da idéia, nós não podemos não". Mas eu fiquei com aquilo matinando a idéia, devia ter um presepiozinho em casa. Então tive a idéia de vender garrafas de óleo de rícino, que eram compradas em qualquer lugar. As farmácias compravam as garrafinhas vazias por 20 réis cada uma. Naquele tempo, quando alguém adoecia ou tinha qualquer coisa, tomava purgante de óleo de rícino. E eu, com aquela vontade de fazer o presepiozinho em casa, passava na rua Espírito Santo, entre Amazonas e Caetés, e via na vitrine um Menino Jesus pequetitinho, de 400 réis. Então, ajuntei garrafinhas de óleo de rícino e vendi na farmácia Neves, à rua Tupinambás, onde é hoje a Caixa Econômica. Com os 400 réis peguei o Menino Jesus pequititinho e trouxe pra casa. Mamãe estava na fonte, eu coloquei uma caixinha de papelão debaixo da mesa e nela arranjei o Menino Jesus, em cima de cabelo de milho, de limo e folhas. Busquei argila no brejo e fiz assim, sem saber direito o que estava fazendo. Fiz uns bichinhos para colocar em volta do Menino. Aí, quando mamãe chegou da fonte, viu e gostou muito: "Não meu filho, eu vou tirar daí". E tirando debaixo, colocou-o em cima da mesa. Isso foi o início, foi o nascimento do presépio. Passando a época do Natal, mamãe guardou o Menino Jesus.