Volver ao corpo, como um gesto, lhe oferece a mão e conduz os olhos pela beira de um rio até um ponto suspenso de sua paisagem: essa paisagem nada tem de regresso. Sua transformação é natural, do chão ao vento, do vento ao fogo, do fogo à água. O corpo, no entanto, é o lastro orgânico de uma permanência, aquele que aprende a presença com os cães. Volver ao corpo é um convite aberto à presença e à lembrança, a transpor-se no verso, mudar a fogueira de lugar, perceber do tempo a física, a gravidade e a resistência do ar, e a saber da ciência a química, meter a mão no sal para temperar a comida. Há aqui a mistura das línguas, do gosto e do gozo: hay vida en cada canto. Na ausência de idioma, tem as mãos como língua, toca fogo para destinar ao corpo a memória da faísca e a capacidade das águas de surpreender as labaredas. Grafa a curva do rio, levando-a no pulso do relógio. Pinça os gestos. Cria-se assim o mapa de um percurso, ao mesmo tempo em que se abre o espaço para que o vento (...)