Vivaldo Barbosa é conhecido como político de luta. Não qualquer luta, mas a da justiça social, a mais importante de todas. Com esse livro demonstra também cultura e sensibilidade de historiador. A história é um dos gêneros literários mais difíceis. Apoiada em técnicas científicas (ela própria não é uma ciência), só se realiza quando é contada ou lida, o que exige do historiador talento narrativo. Talento narrativo não é "escrever bem", mas seduzir o leitor, levá-lo a viver a aventura existencial que o historiador lhe apresenta. Os bons livros de história - como este Meeiros de café. Gente e ocupação da zona proibida do Caparaó - nos pegam pelo pé. São, como o livro de Vivaldo, um exercício de alteridade: viver a vida do outro e, com isso, se acrescentar de humanidade.Marc Bloch escreveu que o historiador fareja a caça humana onde ela estiver. Em Caparaó, um nome que nos traz imediata reminiscência, boa e má, Vivaldo farejou gente. Ali onde os de fora só vêem o inóspito, a selva, o inacessível, ele sabia que se esconde uma aventura existencial. Sabia por que é de lá, sua família viveu a trama fabulosa de ocupação da terra. O DNA da história brasileira, digamos assim, é essa ocupação do deserto (corruptela de desertão) por gente de toda a parte - Suíça, Espanha, Japão... daqui mesmo, um deslocamento incessante que deixa no seu rastro sangue e mais sangue mas, também, sementes de uma nova gente. O povo brasileiro se construiu pelo enfrentamento do proibido, este é o universal brasileiro.