A publicação da dissertação de Neli Maria Teleginski, “Os dois lados do balcão: armazéns, bodegas e cotidiano em Irati/PR (1907-1970)”, honra o compromisso social do conhecimento científico que não pode ficar recluso aos muros das universidades. No texto ficam evidentes as qualidades da historiadora Neli, a mais importante, a sensibilidade para a vida humana em sua complexidade. Ao escrever sobre os armazéns, casas de secos e molhados ou bodegas como eram e ainda são chamadas tais estabelecimentos, concede existência historiográfica e voz a pessoas que não seriam ouvidas de outra forma.Imbuída da perspectiva da história e cultura da alimentação, a pesquisadora lançou seu olhar para uma variedade de ações de sujeitos que deram usos e sentidos para as bodegas muito além das relações econômicas. Sob esse aspecto, as bodegas foram fundamentais para o abastecimento de mercadorias variadas, necessárias aos habitantes de Irati-PR envolvidos com a agricultura, a extração de madeira e o cultivo da erva mate, na primeira metade do século XX. Todavia, a autora destaca que as bodegas “constituíam também um espaço de sociabilidade e de comensalidade.”Tomando inúmeros documentos históricos como fonte, Neli venceu o desafio de tomar as bodegas como ponto de partida para a análise das relações cotidianas da sociedade de Irati-PR na primeira metade do século XX.