João da Cruz e Sousa: pobre, negro, filho de escravos. Estas seriam as mais sinceras e corriqueiras descrições, se o Cisne Negro, com seu pescoço interrogador e imperioso de poeta, não tivesse enfrentado mares de preconceitos para ser o poeta alforriado. Num diálogo intenso e envolvente, esta biografia escrita por Godofredo de Oliveira Neto revela em grande parte da produção literária cruz-e-sousiana traços fortíssimos da personalidade e do sofrimento do escritor. A luta por um espaço profissional, sempre fadada ao fracasso. A tristeza pela morte da mãe. A aflição com a doença psíquica de sua esposa, também negra. No vasto cenário preconceituoso do século XIX, Godofredo, que desde a infância ouvia ecos do poeta do desterro, desenha de forma vigorosa momentos decisivos da vida de Cruz e Sousa e as fragilidades humanas que por vezes também o impediram de caminhar. Em uma belíssima introdução, temos acesso a histórias até hoje desconhecidas pelas biografias anteriores. Mas o biógrafo, por falta de comprovações documentais, ressalva: existiram realmente?, o que nos oferece o doce sabor da curiosidade e da descoberta. Godofredo, aqui, liberta o poeta para sempre da acusação de ter-se omitido das questões negras da época. Com uma linguagem autêntica e dinâmica, este perfil biográfico não deixa espaço para a respiração. Ao final, sentimos com toda força a liberdade do poeta alforriado que foi considerado um dos três poetas simbolistas mais importantes do mundo, sendo chamado de Dante Negro.