Vem à mente aquela imagem do cachorro que adora deitar a cabeça sobre a janela aberta do carro para sentir o vento passar pelo rosto. Pois se imagine nessa mesma cena, de cara lavada, sem nenhuma maquiagem, nem nada que possa ocultar quem você realmente é. Esta é a proposta desta leitura. Intensificar sensações e reflexões. Andamos tão anestesiados atualmente que quando a vida nos dá aquela batida, quando sentimos alguma dor, vemos que não há remédio que restrinja a essência de cada ser. Podemos andar anestesiados e, consequentemente, sentindo menos; podemos nos maquiar para ficarmos mais bonitos do que realmente achamos que somos, mas ao nos deparar com o nosso nada, aí temos a chance de perceber que o nosso nada é tudo. As linhas de expressão deixam de ser feias e passam a ser belas marcas de sabedoria e maturidade. O carro do ano deixa de ser mais especial que aquela lata velha que nos levava às viagens de férias na infância. A escassez do que se podia ter no passado e que nos fazia sentir vergonha passa a ser reconhecida como nossa capacidade de valorizar as abundâncias de hoje. O que era abundante no passado nos faz refletir sobre o que é escasso hoje. Compassividade, creio que essa é a palavra que permeia este compilado de textos. Tratar com compaixão e carinho as dificuldades vivenciadas no nosso desenvolvimento, abordando temas como amor, resiliência, esperança, defectividade e solidão. A ideia de acolher nossas marcas, linhas de expressão e cicatrizes com carinho pela quantidade de conteúdo e significado que carregam. Para isso, para esta leitura, se faz necessário deixar a maquiagem de lado e sentir a delícia que pode ser apreciar a nossa real expressão com toda a sua representatividade e conteúdo. Sentir o quão refrescante e deliciosa é a sensação da cara lavada e tudo que está nela.