Há escritores que pintam escrevendo. A gente sente o volume e a cor nas palavras, pessoas e coisas, mal a frase desponta, logo as temos visualizadas, quase fazemos o gesto de as apalpar, tão sensorial é a matéria com que nos são sugeridas. Esses pegaram um dia da pena, como podiam ter pegado no pincel. Tudo o que deles sai nos entre pelos olhos. E há pintores que escrevem pintando. No curvear de um corpo, na cintilação de um rosto, aí nos fica o lance de uma intriga, o instante significativo de uma vivência. (...) Sérgio Telles pinta escrevendo ou escreve pintando? Não sei dizer. Proponho: ele usa de ambas as coisas. Mistura-as. Harmoniza-as. Deste modo, temos um único Sérgio Telles na evidência que se chama talento - Fernando Namora.