Com vivacidade narrativa e riqueza de detalhes, Monica Schpun apresenta a amizade entre duas mulheres, Aracy de Carvalho Moebius Tess e Maria Margarethe Bertel Levy, que driblaram com muita coragem a extrema hostilidade do mundo durante a Segunda Guerra Mundial. Aracy chefiava o setor de passaportes no mesmo consulado em que o escritor Guimarães Rosa, seu marido, iniciava a carreira diplomática como cônsul adjunto em Hamburgo. Aracy salvou a vida de judeus vítimas do nazismo, ao permitir que emigrassem para o Brasil. Por esse ato de coragem, foi homenageada em 1982 com o título de Justa entre as Nações, concedido pelo Museu do Holocausto de Jerusalém. Margarethe e seu cônjuge, o cirurgião-dentista Hugo Levy, eram judeus liberais que desfrutavam de um padrão de vida elevado. Viajando pelo mundo, ela aprendeu várias línguas, mas viu sua liberdade bombardeada pelas leis de Nuremberg, pela Noite de Cristal e por todos os outros eventos que culminaram com a deportação e o extermínio dos judeus da Europa. Centrado na história do cruzamento dessas duas vidas na Alemanha e no Brasil - e da vida de judeus de Hamburgo que se salvaram da deportação e vieram para São Paulo graças à inestimável ajuda de Aracy -, Justa: a vida de Aracy de Carvalho, o Anjo de Hamburgo apresenta, num texto ágil e perspicaz, a fascinante história em que - a despeito das variações quase infinitas das narrativas individuais, dos caminhos traçados, das iniciativas tomadas e das saídas encontradas - amizade, solidariedade e acolhimento pontuam os espaços sociais que dão sentido a cada uma dessas vidas e iluminam esse contexto social e político ainda tão inextricável.