A memória de Amanda, a protagonista, se assemelha a um bordado intermitente, linhas que não fecham, palavras que se desfazem antes mesmo de emergir. E ela observa o mundo à sua volta como um detetive que investiga uma realidade incompreensível. A narrativa acompanha essa desagregação. Frases pela metade, pensamentos que não se realizam, algo que insiste. Porque, por trás da desmemória, há algo que precisa não ser dito, algo do âmbito do horror. E de repente, percebemos que Amanda é Amanda, mas também é todas as mulheres, e também somos nós. Não há saída além de acompanhar a personagem nesse mergulho, mesmo que intuamos que, do lado de lá, talvez não haja nada, só o horizonte infinito do silêncio.