Os Dragões, metáforas das angústias, das dores silenciosas, são bem domados na lírica sutil da poesia, nestas cantigas de Rogério Bernardes, dar a voz aquilo que entrava a garganta em forma de frustração e perplexidade, torna o processo do viver, de inevitavelmente se circundar com alegrias e perdas, mais maleável, a medida que existe uma forma de transcender as aflições na forma sofisticada do verso. A poesia de Rogério traz de volta as memórias da infância, com uma linguagem que resgata pela simplicidade os nomes dos doces, a imaginação do menino, as vontades, os desejos mais inocentes, mas também, nesta busca pelo relembrar torna-se primor a sinceridade e seriedade de encarar, que a visão de menino choca-se inevitavelmente com a realidade que envelhece as utopias infantis, “ O menino descalço com olhos nas nuvens / Tinha uma enorme vontade de desafiar dragões, / destruir castelos com sopros e estilingues”. Como o autor afirma ser o processo da produção poética o “curar ao falar de dores”, veste sua poesia com a nudez de se saber barco ao naufrágio, sem rumo, sem leme, sabendo que para drenar a vida que se esconde entre as batalhas perdidas, dos desamores, da morte, da aflição, é necessário por em holofote quaisquer índoles de sentimento, “ à deriva e sem vela / O barco sou eu / E o vento me leva”. Na trajetória da vida individual existe um longo caminho a se percorrer, numa jornada sempre iminentemente ameaçada, visto a fragilidade da felicidade aberta em um mundo de tantos dragões ameaçadores, mas se existe o antídoto que para Rogério, tem o afeito intenso de acalmar as feras estancando as feridas da pele, é a poesia a mais sublime forma de cantiga, solta, lírica, rítmica, encantando mesmo as desilusões e as mais cruéis feras.