Fazia tempo que a ideia de escrever um poema narrativo me acompanhava. Talvez essa ideia tenha sido alimentada por um sentimento de espanto e deslumbramento, surgido na infância, o de ficar seduzido pelos cantos da oralidade. Meu pai frequentava semanalmente as feiras populares de Natal: Alecrim, Quintas, Rocas, Carrasco, Santos Reis e Cidade da Esperança. Ele quase sempre me levava junto, e não era incomum que ali se apresentassem repentistas, violeiros, rabequeiros e emboladores de coco. Em certas ocasiões, ouvíamos poetas populares lendo seus folhetos de Cordel e meu pai gostava muito daquelas audições. Em minha lembrança, ficávamos dando mais atenção aos versos do que comprando frutas e verduras. Nessas feiras, ouvi pela primeira vez as palavras poeta-repentista, Cordel, e entendi que proferiam desafios, emboladas e improvisavam, inventavam, mentiam com consentimento público, brincando de narrar palavras cantadas. Na maioria das vezes, eram momentos alegres, o povo ria e se (...)