Entre os mais citados na literatura sobre bioética, o presente texto tem um valor histórico: introduz o neologismo bioética, destinado a estruturar um grande território interdisciplinar. Na ideia original de Potter, a bioética é uma busca contínua por sabedoria, que vê unidos os esforços do cientista e do eticista, é uma ponte para chegar a um futuro ameaçado pelo progresso científico e tecnológico: uma ponte de dois arcos, biologia e ética. Considerada no passado uma parte das disciplinas clássicas, hoje a ética não pode mais estar separada de uma compreensão realista da ecologia: os valores éticos devem estar relacionados com os fatos biológicos, a sobrevivência do ecossistema total torna-se a prova dos exames de valor. Fruto de mais de trinta anos de pesquisa sobre o câncer, o livro de Potter nasce da necessidade de olhar, para além das paredes do laboratório, todas as causas que põem em risco a sobrevivência da espécie humana. Centrada em tal sobrevivência, a bioética de Potter assume as características de um antropocentrismo esclarecido e que vai na direção de uma “bioética global”, que protege todo o ecossistema. Daí que os principais temas que compõem o enredo do livro são: a relação entre ordem e desordem, o conceito de conhecimento perigoso, o progresso humano, a sobrevivência da espécie humana, a obrigação para o futuro e a necessidade do esforço interdisciplinar. Esses temas se unem em um plano coerente, marcado pelo tema da responsabilidade, da necessidade de equilibrar o uso do conhecimento com a consciência da ignorância dos efeitos de longo prazo: uma ética da vida, da qual Potter advertia a urgência nos anos de 1970 e cuja necessidade é advertida hoje de modo ainda mais urgente.