Em 'Aurora', o enredo desenvolve-se na época anterior a I Guerra, quando Viena estava prestes a viver seu apogeu antes da queda e a monarquia dos Alpes ainda era uma potência mundial. Schnitzler mostra um ensaio sobre o 'jogo', sobre a alma do 'jogador'. O clima tem seus mistérios, indiciandos no fulgor de alguma referência não explicada, e o desenlace é avassalador e irremediável. Na obra aparece a maestria do autor na representação do jogo amoroso 'ilícito' e da morte, assim como a precisão - irônica e cética - na interpretação de seu tempo e da sociedade em que vivia. A moral das aparências e a promiscuidade social são registradas no detalhe. Também são mostrados o desejo, a sede e a busca do ato sexual adentrando as fronteiras do obsceno. O mundo dos personagens se reúne no palco da situação para assistir ao desenlace trágico dos acontecimentos. O dinheiro segue, imperturbável, o seu curso; o capricho humano, capaz da mais terrível das vinganças, atua; o amor, desfrutado, fenece; e o pano da morte cai - inexorável - sobre o palco.