Um dos grandes jornalistas da história da imprensa brasileira, considerado o maior repórter de sua geração, Joel Silveira recebeu de Manuel Bandeira uma bela louvação: "Como repórter, não tem quem lhe leve vantagem: possui uma maneira muito pessoal, pachorrenta, meio songa-monga, voluntariamente sem brilho literário - é o anti-João do Rio - e, apesar disso, ou antes por isso mesmo, maciamente perfurante como uma punhalada que dói quando a ferida esfria". Várias dessas qualidades de repórter estão presentes nos contos de Joel Silveira, desde a sua rumorosa estréia com Onda Raivosa (1939), quando o jovem jornalista de 21 anos, recém-chegado de Sergipe, "assaltava as atalaias literárias e jornalísticas da metrópole com o seu talento, ousadia e graça, e uma esplêndida e matinal belicosidade", como informa Lêdo Ivo no prefácio aos Melhores Contos Joel Silveira. A fidelidade ao jornalismo e à literatura se manteve a vida toda. O que servia de fonte a uma, servia também de inspiração a outra, como ocorre nas Histórias de Pracinhas (1945), ocorridas com os soldados brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial (que o autor cobriu como repórter) e nos vários volumes posteriores de contos. A crítica identificou na maneira de narrar do contista, na preferência pelo episódio instantâneo ou pelo aspecto fugaz da vida cotidiana, semelhança com Katherine Mansfield. Os contos dessa época eram registros de instantes em que nada acontece, mas atravessados por sugestões e pressentimentos, seu verdadeiro suporte. A evolução posterior levou Joel Silveira a novos caminhos, mas preservando a ironia e a graça do estilo. Em alguns momentos de plena realização artística chega no nível do que de melhor produziu o conto brasileiro, como em O Dia em que o Leão Morreu, "pungente obra-prima que só costuma sair da pena avisada dos clássicos!" (Lêdo Ivo).