o tempo corre veloz por dentro desses dias de espessura incalculável. daqui da sala de casa, ouço a mistura de sons que vem dos apartamentos vizinhos. a trilha sonora intermitente parece coincidir com o ritmo da minha leitura de abrupto. justaposições. versos que terminam de repente. nessas notas suspensas paira uma alegria inusitada. inês nin escreve como quem enxerga fotogramas. tem algo de poeta-cineasta. faz montagem experimental. divaga e enxerga ângulos imprevistos de luz. seu pensamento gera um atrito, uma pulsação que ocorre em deslocamento. capta os eventos em suas escalas e impactos variáveis. inês percebe a vida que ocorre antes das formulações corriqueiras. acessa a atmosfera, em casa, na praça pública, e reconhece o instinto/de alguma coisa/(existir)/alguma coisa/que seja/viva/respire. contra o neoliberalismo, abriremos terrenos. chegar é menos interessante do que (se) fazer mover, como se mercúrio saísse por aí com uma curiosidade atenta, flutuante, [...]