Até a metade do século xx, ondas epidêmicas de poliomelite alarmavam o mundo. Já nos primeiros anos da década de 1960, graças à vacina oral, a doença havia desaparecido em muitos países, mas não no Brasil, cuja população não tinha acesso regular a serviços médicos nem ao simples direito à vacinação. Para os nossos gestores e profissionais de saúde, o desafio era empreender uma ampla articulação institucional que envolvesse múltiplos atores institucionais e sociais. Não era fácil, mas foram bem-sucedidos. Em meados da década de 1980, o quadro estava completamente modificado: a poliomielite havia sido derrotada mediante "dias nacionais de vacinação" que mobilizavam periodicamente a sociedade para proteger as crianças de até cinco anos de idade. Esta obra reúne artigos de historiadores, epidemiólogos e profissionais da saúde que abordam, em uma saudável perspectiva multidisciplinar, o tempo, os espaços e as memórias da poliomielite. Assim, as epidemias, as vozes dos enfermos, as lembranças dos profissionais envolvidos, as técnicas e tecnologias da vacina e da vacinação, a cultura visual das campanhas, as políticas governamentais em vários países e os impactos no presente de uma doença já erradicada são os seus aspectos mais relevantes. Se conhecimento histórico pode ser também política pública, e esta é sempre histórica, o livro organizado por Dilene Raimundo do Nascimento é uma contribuição inédita e importante para a história da saúde e o desafio inconcluso, talvez utópico, de erradicação da poliomielite e das doenças imunopreviníveis do mundo.