A paixão impermeabilizava a pessoa, feita de material resistente como a macacão de um astronauta. Só que muito mais eficaz, fechando de dentro para fora. Nada passava por ela, nem fogo, nem água, nem a proposta excitante que derreteria o Taj Mahal, nem juras de amor. A paixão trancava, impedia, expulsava, exigia distância. Abolia tudo que fosse estranho a ela, deixando em seu lugar uma sensação de hebetude e superioridade, de controle feliz sobre a vida. Mas tinha muito mais a ver com a burrice pela cegueira com que planava sobre a realidade em torno. Entre os sentimentos, a paixão era idiota da aldeia. Megalômana, frenética, absurda, louca. Como se só ela risse num enterro tristíssimo onde todos choravam.