De vez em quando infelizmente é tão raro aparecem numa editora originais onde o talento transborda, onde um editor, em meio às mil preocupações do dia-a-dia, de repente vê acender uma luz e acha que tem em mãos algo de excepcional. Não resta a memnor dúvida que é o caso com esses escritos desconcertantes até porque não são contos, não são crônicas, não têm uma narrativa comum de ficção, mas ao mesmo tempo são prosa e que prosa! De onde saiu tanto talento? De onde surgiu esse sujeito? Este livro contém indícios da resposta: esses textos loucos escritos com um domínio quase desesperado da língua portuguesa e que não parecem com nada que jamais vimos só podem ter vindo da mente de um iluminado, um doido, no bom sentido, no sentido de não se encaixar em nada, de flutuar acima, ao lado, à margem da sociedade. Da entrega de pizzas em condomínios classe média a panturrilhas ungidas em óleo de papoula, de estrelas em ponto de fritura ao dilaceramento de putinhas-papo-cabeça, passando por piscadelas de olho para Walt Whitman, Henry Miller e Sam Shepard, nada que tenha sido abordado pela irreverência e sarcasmo ferinos deste autor fica de pé. Marcelo Mirosola certamente veio para mexer com nossos marasmos textuais. Apostem que ele veio para quebrar literalmente e será uma boa aposta. "(...) Aí eu parei para respirar. Há muito tempo desde que eu li Roddy Doyle, em 1995 eu não era surpreendida por um escritor muito bom. Continuei lendo, e só me ocorriam avaliações banais, chavões desses onde o leitor se diz sob o impacto de um novo escritor. Literatura. Uma voz forte. Uma liberdade impressionante. Não se parece com ninguém, não é "nova geração", não tem truques para "prender o leitor", crimes, suspense, ação, sexo. Por outro lado, só trata disso. De crimes e sexo. Só que nada acontece. Como pode?", do prefácio de Maria Rita Kehl