Poucos autores possuem uma bibliografia tão extensa como a de Gore Vidal: são 35 romances, além de coleções de ensaios e mais de 100 scripts produzidos. Faltava o melhor de todos os seus personagens – ele mesmo. “Palimpsesto”, o livro de memórias de Vidal, revela que, entre um livro e outro, ele ainda encontrou tempo suficiente para viver uma riquíssima vida pública e privada, onde figuram amores diversos, inimigos, viagens, política e teatro.No livro, Vidal se concentra nos primeiros 39 anos de sua vida. A narrativa é descontínua, anárquica, jogando com impressões e frases que sirvam como gatilho para a memória – para formar uma trama. “Trama de mentiras?”, ele brinca logo na primeira linha, evidenciando que, em biografias, se a ficção for mais interessante que o fato, ela sobreviverá. Visões e revisões, escavando diferentes camadas arqueológicas de uma vida. Desses sítios surgem detalhes minuciosos de personalidades com quem ele dividiu a vida. Em alguns momentos, Vidal chega a ser indiscreto, expondo segredos sobre Tennessee Williams (“detestava ler”), Anais Nin, Truman Capote (“egoísta e mentiroso”), Allen Ginsberg, Jacqueline Kennedy (que teria perdido a virgindade com um amigo de Vidal, num elevador parisiense), entre outros que circularam entre a fama, o dinheiro e o poder.