Imagino este livro sendo lido de duas maneiras: a primeira, em mastigadas lentas e despretensiosas, sem compromisso, com a boca cheirando a hálito fresco de drops de hortelã. A segunda, de preferência em voz alta e com bastante atenção, voraz, glutona, daquelas de balançar o corpo no assento a fim de se equilibrar para não estatelar no chão. Nas duas leituras: dance com Nina pelas ladeiras belorizontinas e aguarde as sensações da cidade se avizinharem, ainda que você nunca tenha passado pela capital mineira. Por vezes um poema ressoa como o alento morno do balançar do ônibus saindo para o Paraíso mas isso você há de entender depois. Noutra hora, o mesmo poema é digerido como pastel do centro frito na gordura velha e rançosa, já que as coisas verdadeiras, mesmo quando comidas com a língua longa, por vezes não nos caem tão bem. Tudo dependerá do ânimo do espírito: de uma página para outra, o sentimento muda com sutileza ou furor. [...]