É pertinente falar de um declínio da transmissão na educação contemporânea? E se for, derivaria ele do modo como a modernidade organizou o laço-social? Por meio de uma reflexão psicanalítica, propõe-se aqui um "sim" à primeira questão e um "não" à segunda. Desde o séc. XX, a educação foi arrebatada por uma colonização tecnicista e psi que tornou de difícil acontecimento a formação cultural (a qual demanda o ensino de conhecimentos e a transmissão em negativo de saber) uma vez que a (psico)pedagogia concebe a aprendizagem como uma resposta natural ao estímulo das capacidades endógenas de um indivíduo. Nesse sentido, é, de fato, pertinente falar em um declínio da transmissão, ou então na degradação do estofo formador e subjetivante da palavra. Mas decorrerá tal ocaso, ademais, de um desdobramento necessário do modo de vida erigido pela polis moderna? A resposta proposta no livro de Douglas E. Batista é não, uma vez que a edificação da polis na modernidade implicou a criação da escola pública, laica e gratuita (escola essa cuja finalidade basilar era a formação cultural).