A arquitectura de Borromini representa uma particular competência para dispôr, com imaginação, da liberdade individual conquistada na luta ideológica travada no exacto lugar da sua actividade profissional, em conflito de valores sobre a arte e a vida, ganhando o direito de expressar uma leitura própria do fenómeno social desse tempo. Porque leitura pessoal e controversa, a resposta foi de ruptura com os valores dominantes, menos compreendida pela maioria dos seus contemporâneos. Exactamente o contrário de se exprimir como manifesto de princípios de um qualquer estilo sintetizador da política de então. Tanto no que se refere a Borromini como a outros seus contemporâneos, o enunciado teórico que parece ter comandado a reflexão crítica sobre a arte por eles produzida foi o aparecimento em força do sentido da liberdade criativa, em contraste com uma prática codificada que os inúmeros tratados da época parece sugerir. O traço dominante da cultura arquitectónica de seiscentos foi o da experimentação de diferentes soluções espaciais e formais que pudesse dar satisfação a uma ânsia colectiva de espectáculo dos excessos, capaz de compensar o sentimento dominante de medo e dúvida face às contingências descontroladas de um quotidiano de crises.