Rogo ao deus dos poetas e escritores: livra-me da perfeição. Tenho medo dela. Muitas vezes, parece-me que ela é a voz melodiosa que me conduz à beira de um abismo. Que a perfeição se afaste de mim, saia do meu pelo e me permita vagar em direção aos erros fecundos, às negligências felizes, às tolerâncias que são os umbrais das surpresas e descobertas, ao risco da aventura formal, ao texto dignificado pela significação reveladora e incômoda. Se há algo que um poeta ou prosador deva temer é a perfeição, está radiosa sepultura do amanhã. Que a minha obra tenha imperfeição da terra seja o domínio incompleto do homem e da vida, o discurso do mundo.