Concebido como uma homenagem ao escritor João Guimarães Rosa, no cinqüentenário de Grande Sertão: Veredas, o romance Nhô Guimarães, de Aleilton Fonseca, é um saboroso As Mil e Uma Noites sertanejo. Trabalhando a linguagem de forma imaginativa, Aleilton cria uma personagem que, ao narrar histórias e causos em boa parte inspiradas no imaginário popular brasileiro e no vasto universo rosiano, relembra seu velho amigo Nhô Guimarães. O sertão vem a mim, diz a narradora. Acredite: o sertão vem a mim, todo dia mais. As histórias vêm: aqui se arrancham, almoçam e jantam, bem fartas, tiram madorna na rede, de prosa comigo. O senhor compreendeu o meu dizer? Elas vêm a mim, guardo os fatos, aceito: protejo, velo, resguardo, no meu firmar. Tomo conta de um tesouro. Aleilton Fonseca resgata uma prosa cheia de beleza, cuja oralidade passa por um apuro formal que lhe filtra os cacoetes e excessos, escreve nas orelhas Antonio Torres. Mas sem abdicar do colorido, do ritmo e sabor das conversas num avarandado ou ao pé do fogão, para espantar o medo das assombrações, ou se livrar das más lembranças. Destinado tanto a iniciantes quanto a iniciados na obra de Guimarães Rosa, Nhô Guimarães, de Aleilton Fonseca, é um romance-homenagem que segue seu próprio caminho. Como afirma Maria Lúcia Martins, neste romance cada letra é sinal de rastro rasgado entre brumas de solidão e o vermelho do sangue.