Paco, ainda criança, passeava com sua irmã quando viu, pela primeira vez, um cu. Era de um cachorro. Aquilo é o cu, minha irmã disse. E isso todo mundo tem. Menino e menina. Fiquei pensando nisso que era novo pra mim, com nome curto e todo mundo tinha. Cu. Arrisco começar essa orelha colocando logo o cu na mesa. Posso ouvir os risos nervosos ou o brusco fechar do livro ou, pior, o seu abandono com violência na prateleira, somado a gritos de impropérios. Mas por que essa palavra de duas letras causa tanta repulsa, vergonha, timidez, pudor, culpa? Por que o cu é tão mal falado? O que ele fez? Segundo afirmam Deleuze e Guattari, o primeiro órgão a ser privatizado, removido do campo social, foi o ânus. A citação é retomada em artigo do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, O medo dos outros, no qual ele lembra o mito ameríndio de Pu’iito, um ânus com vida própria. Um dia, as espécies animais pegaram e repartiram Pu’iito para que pudessem ter um ânus e, assim, não mais defecassem (...)