Muita confusão se criou em torno da máxima glauberiana - "uma câmera na mão e uma idéia na cabeça" - como se houvesse aí implicada a idéia de elementar improviso, pouca atenção ao trabalho de preparação dos filmes. Tomá-la à letra, de forma redutora, é esquecer a enorme auto-exigência e o angustiado trabalho de criação de um cineastra realizador de obra complexa, em que "idéia" envolve um rico processo de reflexão e de ensaio nos caminhos de expressão, e "câmera na mão" significa abraçar uma nova estética de construção do olhar e da "mise-en-scène" que se ajusta à escassez de recursos e faz, de um problema, um motivo de criação. A pesquisa de Josette é documento definitivo deste trabalho cheio de mediações, cujos saltos e reviravoltas não dispensam um movimento subterrâneo de maturação, como podemos observar na série dos roteiros.