O Rio Grande de São Paulo, capitania meridional da colônia portuguesa na América,por sua posição fronteiriça, ocupação tardia e instabilidade do domínio, constituiu, ao longo do século XVIII, uma sociedade militarizada, na qual o controle dos recursos para a guerra e a garantia de acesso às pastagens e ao gado estabeleceram as bases da ação cooperativa entre as elites locais e o poder central. No entanto, a primeira metade do século XIX traria profundas mudanças nesses padrões de relacionamento. Ao passo que o estabelecimento da Corte portuguesa no Rio de Janeiro (1808) permitiu a ampliação dos laços entre a elite sul-rio-grandense e a Coroa em torno da extração de recursos e da expansão do teritório, a Guerra Cisplatina 91825-1828) se constituiu em um ponto de inflexão neste relacionamento, quando passou a predominar o aspecto conflitivo da fiscalidadeEste livro trata da especificidade da crise do Antigo Regime português no Rio Grande de São Pedro, onde a interação entre guerra e fiscalidade numa região fronteiriça permite analisar a inserção dessa província no início do processo de formação do Estado brasileiro, o qual envolveu mudanças significativas no sentido e nos instrumentos de extração de recursos e de negociação entre a Corte e os diferentes setores da sociedade.