Certa vez, ao passar a seus alunos um exercício de fotografia, Fabiano Scholl conta que um deles fez imagens de pessoas cujos pés estavam fora do enquadramento, e o professor quis saber o porquê daquela escolha. O aluno buscava um efeito tal que as pessoas parecessem estar no espaço. O professor arguiu, então, a um só tempo enfático e delicado: Mas nós estamos no espaço. Os poemas que Gustavo Rosa apresenta neste livro de estreia entregam esta sensação decuplicada: estamos efetivamente no espaço, a flutuar em nossos batiscafos de memória e em nossas esferas de realidade (seja lá o que isso queira dizer), ainda que as leis da física e as vicissitudes do cotidiano, da rotina e da compulsão à repetição, mantenham-nos rentes ao chão, temerosos em sair voando, presos no eterno labirinto do que volta, mas sempre é o mesmo e sempre é outro. Assim, Um levantar de paredes pode significar tanto a ideia de construção, como uma metáfora para a edificação, quanto o seu oposto: