O presente livro objetiva revelar o incontornável dilema hegeliano decorrente de sua recusa a todo Absoluto intuído ou posto irrefletidamente, consequência de seu empenho na elaboração de um sistema filosófico inteligível e discursivo do princípio ao fim. Ou seja, a necessidade inerente ao Absoluto tanto de se exteriorizar e, assim, produzir o contingente, quanto de alcançar a sua plena identidade consigo mesmo liberando-se dele tem na linguagem o seu elemento mediador. O problema é que a pressuposição linguística categorial e a linguagem finita por meio da qual o sistema se expõe precisam ser superadas se considerada a incondicionalidade do pensamento puro a ser provado na Ciência da Lógica. Eis a dualidade aparentemente insuperável entre pensamento e linguagem: como é possível um pensamento ao mesmo tempo absoluto e exprimível se o pens-amento só pode alcançar absolutidade liberando-se dessa linguagem finita, marcada por traços inelimináveis de contingência? Vê-se, então, um Hegel dividido: de um lado, assumindo uma linguagem finita como necessária ao pleno desen-volvimento e exposição do sistema do pensamento puro e, de outro, exigindo apriorismo do pensamento puro, logo tendo de abandonar esta suposta condicionalidade linguística.