O cativante protagonista de Ninguém no Espelho involui de José para Zé até chegar a Zé Ninguém, ao mirar-se no espelho de sua vida e nele desaparecer. O leitor, de mãos dadas com os Zés, vê-se refletido na sua própria condição humana, em que se depara com o outro (ou consigo mesmo?) em suas fomes. Da fome de pão à fome de identidade e de amor, por veredas sem norte e sem fim. A comovente e corajosa Mariana, tal qual Sherazade das Mil e Uma Noites, conta histórias para enganar a fome das crianças até que adormeçam com apenas uma caneca d’água e ralas migalhas. Uma das milhares de anônimas Sherazades dos confins de um Brasil dividido e/ou ignorado. Mas quase todas mudas, caladas. É entre uma história e outra que nasce José/Zé/Zé Ninguém, filho do pão, no remoto povoado da Curva do Cipó, pelas mãos da parteira Ana dos mil partos.