"[...] Dois dias se passaram e Maria Sem Graça ainda estava procurando o fio condutor para a dita comparação. Adentrou no escritório em direção ao computador. Mas o que encontrou ali foi um cachorro deitado, de olhos vermelhos e lindos, mastigando algo. O que ele fazia ali perto do computador? Talvez fosse para lembrar à Maria de que ela estava escrevendo sobre baratas, assim como ele, animais domésticos. Ao fixar o olhar nos movimentos da mastigação do cachorro, Maria viu duas baratas fictícias. Uma que já havia sido esmagada pela escritura anterior e outra toda pesada, com uma casaca marrom enorme e cheia de pernas, também pesadas e enormes. Uma barata que se arrastava num quarto e observava o outro. Recomeçou a escrita, como sempre, a lápis... [...]" "[...] Fogão ligado, alho amassado. O cumezinho, que alimenta qualquer um que chegue durante o dia, fica sempre pronto às onze horas. Nisso ela é pontual, pois se alimenta de três em três horas como se algum regime de emagrecimento fizesse. Mas não é isso não. É costume mesmo. Talvez daí venha a saúde que tem. Não toma nem um remédio. Almoça bem e não dispensa uma dormidinha ao som da latomia que vem de fora. É a vizinhança que faz da rua uma sala de bate-papo. Parece uma festa depois de cada almoço. [...]"