Dois teólogos católicos escreveram este livro: o peruano, conhecido teólogo da libertação, Gustavo Gutiérrez, frei dominicano, e o alemão, ex-professor de teologia dogmática, Gerhard Ludwig Müller, nomeado bispo de Regensburg em 2002 e hoje prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Um encontro inusitado, embora sele uma amizade de décadas entre os dois presbíteros (Gutiérrez concelebrou durante a ordenação episcopal do amigo alemão). Oriundos de duas diferentes experiências de mundo, eles demonstram nesta obra que suas trajetórias traçaram importantes paralelos e convicções fundamentais comuns, que culminam na afirmação de Müller, segundo a qual a Teologia da Libertação é uma conquista irrenunciável para a visão cristã sobre Deus e sobre o mundo. É verdade que frei Gustavo Gutiérrez nunca foi condenado por Roma, e também é sabido que Dom Gerhard Müller foi aluno de Gutiérrez, além de seu amigo íntimo. O recente lançamento do livro na Itália - e agora no Brasil - não deixa de ser uma reviravolta importante no clima entre o Vaticano e a numerosa comunidade de cristãos que inspira sua vida espiritual no universo da Teologia da Libertação. A publicação original do livro na Alemanha (2004) não impediu que Müller fosse indicado por Bento XVI para o cargo que até hoje ocupa. Müller deixa claro que a "Teologia da Libertação deve ser contada entre as correntes mais significativas da Teologia católica do século 20". E vai além: "Só por meio da Teologia da Libertação a Teologia católica pôde se emancipar do dilema dualista do aquém e do além, da felicidade terrena e da salvação ultraterrena". Fica evidente neste livro o que já dissera o jesuíta Carlos Palácio, e Agenor Brighenti o recorda no prefácio desta edição brasileira: "esta teologia é original não necessariamente pelo seu método e muito menos pelo seu produto final, mas antes pela experiência eclesial que a sustenta".