O anarquismo não propõe a sociedade transparente, o desaparecimento de todo conflito, o fim de toda divisão, a harmonia global. Isso seria o fim da história, uma escatologia.(...) Mas o anarquismo constata que toda sociedade fundada na divisão dominante-dominado transforma a justiça, como dizia Trasímaco, no interesse do mais forte, e que, numa sociedade estatista a Lei "é apenas a vontade declarada dos conquistadores sobre a maneira como eles querem que seus súditos sejam governados", conforme escrevia Winstanley, em 1650. Para chegar a um regime justo, em que a liberdade e a igualdade de cada um seja reconhecida, é necessário abolir a dominação, isto é, construir um sistema sócio-político no qual a capacidade simbólico-instituinte pertença ao coletivo e não a uma separada do resto.