Vera Fischer dispensa apresentações. O conhecimento, porém, em certos casos oculta o desconhecimento. Pois se a ex-Miss Brasil (1969), modelo e atriz mais do que famosa da TV, é uma figura pública notória, isto não significa que sua vida, sua biografia, enfim, sua pessoa, sejam de fato conhecidas (para além dos últimos episódios de sua vida amorosa). Pois a vida pública tem sua contraparte privada. Uma contraparte em que as pessoas são, todas, mais normais, no sentido de mais humanas (ainda que a vida em si de Vera Fischer pouco tenha de comum). E é isto o que nos revela esta autobiografia, que acompanha a atriz desde a primeira infância - quando atendia pelo apelido familiar de "Moisi" - até o fim da adolescência. Tanto o texto quanto as fotos - tratando-se de quem se trata, como não poderia deixar de ser, o livro é fartamente ilustrado - trazem revelações que mostram uma nova dimensão da mulher conhecida por sua imagem. Imagem cuja evolução, aliás, pode-se acompanhar pelas muitas fotos inéditas. Não apenas pela mudança natural entre a infância e a idade adulta, mas também pelas mudanças mais intensas da esfera particular para a pública. A adolescente Vera Fischer, por exemplo, é menos loira, menos magra e menos sexy, e muito mais parecida (ao menos por fora) com uma adolescente de boa família do interior de Santa Catarina no começo dos anos 1960 - antes, portanto, da "revolução" dos costumes de 1968, que afinal incorporaria. Como sintetiza o prefácio, "Está tudo lá: o primeiro amor, o primeiro beijo, a infância em Blumenau, a origem alemã, a adolescente irrequieta, a grande família - sempre fazendo breves paralelos com a sua vida atual. Em outras palavras, como os anos verdes influenciaram os anos maduros. Tudo num estilo bem simples e despretensioso, como se estivéssemos conversando com a Vera - em pessoa ou por telefone. Vera escreve como fala. E com a mesma coragem. A coragem de se expor ou de falar, com brutal franqueza, sobre o pai, a quem ela, em seu diário, prometeu matar: ‘Não precisei fazê-lo. A vida se encarregou disso. Ele morreu de câncer.’ Mas nem o pai conseguiu impor limites ao furacão Vera - embora lhe batesse. E muito. A pequena Moisi sempre fez o que lhe deu na telha". Pois agora lhe deu "na telha" escrever essa autobiografia. Os fãs agradecem.