Diz-se que o número quatro representa ordem e harmonia, isso no plano espiritualista e outras quimeras. Mas, na escrita mínima de Bruna Pligher, na qual é o rés-do-chão que interessa, o número quatro soa simplesmente como o apoio necessário para que uma superfície como a tessitura das palavras se sustente por si mesma. É o caso deste livro de estreia e seus quatro dramas, reluzentes como as últimas lantejoulas que teimosamente restaram pregadas num figurino outrora fabuloso e feérico, agora esquecido no porão de um pequeno teatro falido. Mas igualmente, em Pligher, quatro poderiam ser os pés de uma mesa, uma mesa qualquer, se bem que nunca uma de centro. Ou talvez seja mais justo pensar nos quatro pés de um banco, um banquinho bem pequenininho. Isso porque a dramaturga não somente é generosa no uso dos diminutivos procedimento tido como literariamente arriscado, e aqui elevado ao virtuosismo, como os injeta na própria medula da sua carpintaria cênica.