Este livro traz uma reflexão sobre a posição de al­gumas mulheres vítimas de violência doméstica através da interface entre a teoria psicanalítica e o Direito. Uma análise do novo entendimento jurídico que reconhece todos os crimes previstos na Lei Maria da Penha como crimes de ação pe­nal pública incondicionada permite questionar o reforço à vitimização da mulher quando se retira dela a chance de se posicionar como sujeito do desejo. Tomando a mulher em situação de violência doméstica como ponto central, propõe-se um retorno à história das mulheres na socie­dade ocidental para verificar a insignificância de sua representação social ao longo dos tempos demonstrada no silêncio profundo a que elas foram relegadas. Constata-se que essa herança cria vias facilitadoras para que a mulher ocupe esse lugar, já que ela é fruto de elaborações sociais historicamente construídas, em que práticas de dominação foram legitimadas. Partindo da teorização de Freud sobre o masoquismo, busca-se compreender a posição de algumas mulheres que se mantêm ativamente em situação de violência doméstica. Uma análise de dois relatos au­tobiográficos por meio dos estudos freudianos sobre o masoquismo nos fornece subsídios para verificar essa participação ativa.