Neste livro, que culmina mais de quatro décadas de pesquisas sobre a região amazônica, Bertha Becker aborda uma questão crucial: por que os núcleos urbanos, tão intrínsecos ao processo de sua colonização, não promoveram o desenvolvimento da Amazônia? Para respondê-la, reexamina a história das origens das cidades amazônicas à luz das teorias de Jane Jacobs sobre as cidades como motores do crescimento econômico e de Peter Taylor com respeito às relações entre cidades e destas com os lugares centrais. A história da Amazônia revela que a região ficou à margem do Estado brasileiro, na dependência das demandas das metrópoles e países estrangeiros, passando por curtos períodos de crescimento seguidos de longos intervalos de estagnação. Se em tempos coloniais a apropriação do espaço amazônico pelos europeus seguiu diferentes modelos, em épocas contemporâneas o Estado brasileiro favoreceu a expansão da fronteira agrícola do Sudeste para ocupá-lo. Por sinal, o Estado brasileiro historicamente tem-se caracterizado pela implementação de uma geopolítica de controle territorial da Região Amazônica, criando novas instituições administrativas sem fomentar o avanço social. Não funcionaram na Amazônia as redes de cidades que poderiam definir um fluxo comercial que expandisse a economia regional por meio de uma substituição de importações porque ocorreu uma relação de subordinação hierárquica às demandas externas das metrópoles mundiais. As poucas cidades dinâmicas da Amazônia devem essa condição ao comércio associado à circulação, aos recursos e a privilégios políticos, e se destacam pela criação de "trabalho novo" industrial (Manaus), legado de um ou vários surtos (Rio Branco, Manaus, Santarém e Belém), geopolítica estatal (Rio Branco, Imperatriz), indústria cultural (Belém, Parintins) ou estimulo resultante da criação de universidades (Santarém). Em núcleos pequenos e numerosos, a cultura e o saber indígena e caboclo e os grupos camponeses que trabalham na floresta com produtos não madeireiros formam um contingente diferenciado e resistente, de características próprias. Mas a região ainda se ressente da falta de cadeias produtivas completas que estruturem e integrem os setores de produção, havendo o predomínio da economia informal e grande dependência do Estado brasileiro. Por isso, diz Bertha Becker, é urgente um novo padrão de desenvolvimento regional, capaz de melhorar as condições de vida das populações da Amazônia e superar as ameaças à sua sustentabilidade.