Se, de fato, foi na República que Platão, na instituição de um Estado filosófico, fundamentado em uma determinada concepção ontológica, que o faz entender o artístico como o tríplice ilusório, houve por bem não mais aceitar a compreensão mítica do mundo - na Grécia irradiada sobretudo pelos poemas de Homero -, também é certo que não foi apenas aí que o filósofo combateu veementemente o poeta. Lendo as obras Íon, Eutífron, Hípias Menor, Protágoras, Mênon e Crátilo, somos forçados a afirmar que, desde os primeiros diálogos, o combate à poesia se faz como uma característica determinante da filosofia. Assim, em sua origem platônica, é no contraste com a linguagem poética que a linguagem filosófica vai delimitando seus contornos e, dessa maneira, constituindo suas regras. Pelo que o lógos, antes de ser metafísico, é essencialmente político.