Os olhos de Omar bin Adbala ardiam com a mesma intensidade que a fogueira destruía séculos da cultura de seu povo. Em 1499, em um auto-de-fé ordenado pelo cardeal Ximenes de Cisneros, e sob o auspício dos reis católicos Fernando e Isabel, foram queimados todos os livros em árabes recolhidos nas bibliotecas da cidade de Granada. Dó foram poupados pouco mais de 300 manuscritos de medicina e astronomia, que mais tarde se propagariam pela Europa, abrindo o caminho para a Renascença. De nada adiantou que sete anos antes, em 1492, os reis espanhóis tivessem prometido respeitar a religião e as tradições muçulmanas como parte do acordo para a rendição da cidade. Com a tarefa de cristalizar os bárbaros, o cardeal Ximenes põe as últimas comunidades mouras em uma encruzilhada de fé: perder a identidade convertendo-se, ou morrer.