Narrativas do espaço pantaneiro e da experiência coletiva de crianças que moram na Campina, região labiríntica do Pantanal mato-grossense, esses são os discursos que movimentam este livro. Apresento a força interpeladora de narrativas incompletas que podem esfacelar a rigidez que ainda persiste no tempo presente no campo educacional. Abrindo essas narrativas tenho a intenção de criar um novo espaço, uma nova história para a criança que ganhou a característica de frágil, desprotegida, incompleta pela narrativa dominante. É com base na experiência de um ano passado na Campina, vivendo, convivendo, conversando, observando, brincando, anotando, ouvindo, gravando, aprendendo, fotografando, cartografando, que trago essas narrativas como possibilidades reais de experiências coletivas no mundo atual. Concebo o espaço pantaneiro como uma narrativa constituidora do processo de subjetivação da criança ribeirinha que foge à regra da subjetividade requerida e/ou produzida na/pela modernidade. Considero as crianças da Campina como experiências que resistem ao saber e ao poder, experiências ímpares que, no seu limite, talvez, possam produzir algo novo, que seja diferente do sujeito individual requerido pelo projeto moderno. Questiono, neste livro: como as crianças da Campina burlam as regras do processo de subjetivação capitalístico, fazendo acontecer a experiência coletiva? Em que medida a experiência coletiva, enquanto multiplicidade que compõe o processo de subjetivação das crianças da Campina, seduz com maior intensidade aquelas almas, em relação às experiências individuais, veiculadas pelo discurso disciplinar? É possível conciliar escola, multiplicidades e desejos? Essas questões são pensadas tendo como interlocutores principais Guimarães Rosa, Manoel de Barros, Walter Benjamin, Michel Foucault, Gilles Deleuze e Felix Guattari.