Ludwig Wittgenstein (1889-1951), nascido em Viena, foi um dos principais atores da virada linguística na filosofia do século XX. Suas contribuições se iniciam no campo da lógica, com a publicação do Tractatus Logico-Philosophicus, perpassam a filosofia da linguagem com Investigações Filosóficas e permeiam a filosofia da mente com as notas que compõem Últimos Escritos sobre Filosofia da Psicologia. Embora seu trabalho geralmente tenha sido dividido em duas fases, Wittgenstein procura mostrar que atividade filosófica deve ser um exercício terapêutico sobre a linguagem. Preocupado em estabelecer limites entre proposições com sentido e aquelas que não passam de contrassensos, o autor se depara, a partir da década de 1930, que tal proposta não é suficiente para resolver os enigmas produzidos pelo modo como utilizamos a linguagem. Dentre os paradoxos produzidos pela atividade linguística, encontramos uma tradição de autores (Sócrates, Agostinho, Descartes, Watson, entre outros) preocupados em justificar o modo como o "interior", a "interioridade" ou a "mente" pode ser expressa e analisada. Wittgenstein permanece herdeiro de tais discussões em seus trabalhos. Ao pensar a linguagem como guiada por critérios públicos, Wittgenstein pensa o conteúdo "interior" de maneira intersubjetiva, ou seja, elaborado a partir de nossas práticas linguísticas ordinárias, de nosso contexto cotidiano. Compreender o interior é verificar sua expressividade e o modo como ele foi construído linguisticamente. O filósofo não pretende negar a existência de um estado interior, mas libertá-lo de uma compreensão que insiste em separar o físico e o mental, enquanto distintos e independentes. Pensar o interior, segundo Wittgenstein, é pensá-lo enraizado na trama de nossa vida.