Um lugar de se morar, comumente, delimita-se com paredes. Mesmo o mundo e seus espaços sem elas podem se tornar a improvável ou infeliz morada de tantos no imponderável, no acaso ou no pretenso destino provocador de circunstâncias. Assim, parece também haver similaridade entre uma casa ou uma não-casa com um livro ou a sua experiência em negativo, a se denunciar por suas formas, conteúdos, frases e palavras. As oito partes da obra “Entropia com estatuetas (contemas d& laboratório)” parecem mais com não-paredes, porém untadas por uma argamassa distinta de tantas outras. São essencialmente narrativas (ou seus esboços) a beirar artefatos poéticos, pronunciando uma solução em torno do numeral 8, também a ser imaginado como o infinito alevantado, talvez uma dinâmica solução para concentrar-se no imaginário do leitor. Jorge Pieiro prefere denominar “contemas” aos seus extratos criativos e aprofunda-os, se os torna experimentais, de laboratório. Daí, a própria condição do caos em cada um dos espectros desses relatos de fortunas, nacos dos dias. Por esta razão, parece ainda descobrir citações, quem sabe borgeanas, e tornar-se tão vertiginoso quanto seus escolhidos: Tangereaux, Lao-Ling Ho, Arthur Loveshit, Sandro Dalpino, Jean Guigneaux, Hildebrando Pérez Grande, Roberto Casati e Guimarães Rosa. Caberá ao leitor a surpresa pelas próprias descobertas. [Por Albano Cachapa]