Este livro é composto de poemas em alta voltagem. Mesmo que de início pareçam sóbrios, mansos, singelos até, há neles uma energia capaz de abalar crenças, destruir convicções, desnudar todas nossas fragilidades. A dura, a excessiva realidade cotidiana, ceifadora de sonhos infantis. O entendimento melhor, não o entendimento, mas a vivência do mundo evidencia a impossibilidade da compreensão total do outro e a inviabilidade da exposição total de si. E então os desgastes nas relações, e as dores daí nascidas. Os poemas estão repletos de certeiras, sofisticadas e sensíveis imagens poéticas. Que não são discricionárias, surgem essenciais para que a percepção do íntimo se dê. E há também as palavras duras, de pedra, necessárias para a exposição das aflições que envolvem o ser, como treva, como sombra, imunes à luz. O poeta sabe que o absurdo está em nós. Mas que só sofrer não dará luz aos versos. Não adianta chorar. Conhecer o mundo não significa compreendê-lo. A vida é turva.(...)